Maria Montessori: uma vida em prol da descoberta da infância e de toda a sua potência

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Maria Montessori, no dia 10 de julho de 1896, na Universidade de Roma, se tornava a primeira mulher da história a se formar no curso de Medicina na Itália. A trajetória, porém, que a tornaria conhecida no mundo todo, seria traçada no campo da educação, com a sua proposta de um método educativo inovador para a época e até hoje referência em diversas escolas no mundo inteiro.

Nascida Maria Tecla Artemísia Montessori no dia 31 do mês de agosto do ano de 1870 em Chiaravalle, uma comuna italiana, desde muito pequena demonstrava grande interesse pela Ciência. Essa inclinação levou a jovem a se tornar a primeira mulher a se formar em Medicina em seu país.

Com pouco mais de 28 anos, formada. Montessori passou a se dedicar a uma área bastante recente e nova da Medicina: a psiquiatria. Em 1896, em uma de suas primeiras visitas ao que na época chamavam de “hospício”, a recém formada Montessori se deparou com uma situação bastante cruel: o tratamento desumanizador com que crianças e adolescentes com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento eram tratados. Não se acreditava de forma alguma que crianças como eles poderiam ser passíveis de aprender e se desenvolver, o preconceito permeava todo o tratamento ao qual essas crianças e adolescentes eram submetidos.

Pode-se dizer que a passagem como voluntário por essa clínica psiquiátrica da Universidade de Roma foi o grande estalo que fez com a então médica começasse a se interessar pelo campo da educação: ao perceber a quase inexistência de pesquisas e o tratamento cruel que era destinado às crianças com algum tipo de deficiência ou transtorno.

Na clínica, Montessori percebeu que as crianças não possuíam nada além de suas camas e roupas padronizadas, nenhum brinquedo ou material que poderiam estimular suas brincadeiras e aprendizagens.

Maria Montessori começa então um intenso trabalho de pesquisa buscando desenvolver práticas e métodos para auxiliar no desenvolvimento e estimular as habilidades das crianças. Ao longo de suas pesquisas, chega à conclusão de que o ambiente tem grande importância no processo de aprendizagem: ele deve ser instigante e desenvolvido pensando em proporcionar às crianças a livre exploração e liberdade. Em contrapartida, cada criança ganha com isso por adquirir o senso de responsabilidade e autonomia.

Com a sua vida e trabalho tendendo cada vez mais à área da educação, Montessori passa a cursar Pedagogia e, no ano de 1907, receberia um convite que mudaria para sempre a sua vida e que ajudaria a inscrever seu nome de vez na História da Educação. Era então inaugurado em São Lourenço, um dos bairros mais pobres e carentes de Roma, a Casa das Crianças (Casa dei Bambini).

Nessa escola para crianças carentes, Montessori pôde colocar em prática todos os seus estudos, pesquisa e a metodologia que acreditava: as atividades desenvolvidas na Casa, incluíam os cuidados com si próprios, com o meio ambiente e com os outros, por meio de atividades sensoriais que estimulavam as crianças a tornarem-se ativas em seu processo de aprendizagem ao mesmo tempo que desenvolvia nelas concentração, sentido de pertencimento, gratidão, gentileza e cuidado.

Cada detalhe da Casa/ escola foi progressivamente sendo transformado para acolher as crianças em sua singularidade. Os móveis, que guardavam os materiais dos quais as crianças desenvolviam suas atividades, antes altos e acessíveis apenas aos professores, foram sendo transformados em pequenas estantes, ao alcance das crianças.

Um caso exemplar do poder de concentração que as atividades propostas por Montessori incitavam nas crianças é narrado pela biógrafa da educadora em detalhes. Diz-se de certa vez que Montessori resolveu testar até que ponto uma criança se manteria concentrada e disposta a trabalhar em um material por ela proposto.

E foi assim que, em um dado dia, começou a observar uma menininha de uns três anos durante a manipulação dos seus encaixes sólidos. A menina parecia bastante compenetrada, ao que Montessori solicitou à professora que estava naquela ocasião presente que puxasse com as demais crianças uma cantiga de roda. A menina continuava em seu trabalho quando então, Montessori não satisfeita, pegou a menina com a cadeirinha em que ela estava sentada e a ergueu, – a menina apenas colocou os encaixes sobre a própria perna e assim, trabalhando com o material, continuou.

O método desenvolvido na Casa das Crianças rapidamente se espalhou por diversas partes da Itália, até se tornar conhecido em outros países. Com a ascensão do regime fascista de Mussolini, na década de 1930, Montessori teve que abandonar seu país. A educadora morreu no ano de 1952, na Holanda, aos 81 anos de idade.

Qual o papel que um professor exerce na vida de seus alunos? E o contrário, como cada um dos alunos fica marcado na vida de seus professores? A trajetória de Montessori, que apresentamos de forma bastante sucinta aqui, exemplifica o quanto a educação é um processo marcado pela relação intrínseca entre teoria e prática.

Ao longo de toda a sua trajetória como pedagoga, Montessori sempre esteve em contato com seus alunos, no melhor sentido que isso possa significar, e para muito além do mero contato profissional, Montessori sempre teve um olhar humano e acolhedor para cada uma das crianças com as quais esteve envolvida, buscando apreender as necessidades, limitações e o desenvolvimento de todas, sempre tomando como premissa o princípio da liberdade como sinônimo de confiança, respeito e comprometimento com as crianças com as quais trabalhou.

Para ela, a construção do conhecimento é indissociável da prática da liberdade e da autonomia, que devem ser trabalhadas desde a mais tenra infância. O segredo do seu método esteve ancorado em um profundo respeito às potencialidades e individualidades de cada uma das crianças e, ao longo desse processo, o professor, como companheiro da criança nessa aventura pela aprendizagem, deve buscar estimular e propiciar ao máximo para que as crianças possam tornar-se agentes de seu próprio processo de ensino e aprendizagem.

Nesse método por ela proposto, o professor não fica em segundo plano ou desaparece, como pode ser erroneamente compreendido à uma primeira vista, mas todas as concepções nas quais estavam ancoradas as premissas pedagógicas desde então foram questionadas: o professor deve ser apenas o condutor, aquele que proporciona as melhores condições (preparando o ambiente, selecionando materiais) para que os seus alunos possam experienciar e aprenderem, por si mesmos, a melhor forma de aprender. Uma forma pessoal, que respeita os seus próprios processos e parte de suas experiências concretas, sentindo o prazer de serem agentes de suas próprias aprendizagens.

Sabrina Ferrazoni Superibi – Professora da Equipe Educare.